Eu tinha medo da escuridão, até que as noites se fizeram longas e sem luz,
Eu não resistia ao frio facilmente, até passar a noite molhado numa laje,
Eu tinha medo dos mortos até ter que dormir num cemitério,
Eu tinha rejeição por quem era de Buenos Aires até que me deram abrigo e alimento,
Eu tinha aversão a Judeus até darem remédios aos meus filhos,
Eu adorava exibir a minha nova jaqueta até dar ela a um garoto com hipotermia.
Eu não resistia ao frio facilmente, até passar a noite molhado numa laje,
Eu tinha medo dos mortos até ter que dormir num cemitério,
Eu tinha rejeição por quem era de Buenos Aires até que me deram abrigo e alimento,
Eu tinha aversão a Judeus até darem remédios aos meus filhos,
Eu adorava exibir a minha nova jaqueta até dar ela a um garoto com hipotermia.
Eu escolhia cuidadosamente a minha comida, até que tive fome,
Eu desconfiava da pele escura, até que um braço forte me tirou da água,
Eu achava que tinha visto muita coisa, até ver meu povo perambulando sem rumo pelas ruas,
Eu não gostava do cachorro do meu vizinho, até naquela noite eu o ouvir ganir até se afogar.
Eu não lembrava os idosos, até participar dos resgates,
Eu não sabia cozinhar até ter na minha frente uma panela com arroz e crianças com fome.
Eu achava que a minha casa era mais importante até que as outras até ver todas cobertas pelas águas,
Eu tinha orgulho do meu nome e sobrenome, até a gente se tornar todos seres anônimos,
Eu não ouvia rádio até ser ela que manteve a minha energia,
Eu criticava a bagunça dos estudantes até que eles, às centenas, me estenderam suas mãos solidárias.
Eu tinha segurança absoluta de como seriam meus próximos anos agora nem tanto.
Eu vivia numa comunidade com uma classe política, mas agora espero que a correnteza tenha levado embora,
Eu não lembrava o nome de todos os estados, agora guardo cada um no coração,
Eu não tinha boa memória, talvez por isso, eu não lembre de todo mundo,
Mas terei mesmo assim o que me resta de vida para agradecer a todos,
Eu não te conhecia, agora você é meu irmão,
Eu desconfiava da pele escura, até que um braço forte me tirou da água,
Eu achava que tinha visto muita coisa, até ver meu povo perambulando sem rumo pelas ruas,
Eu não gostava do cachorro do meu vizinho, até naquela noite eu o ouvir ganir até se afogar.
Eu não lembrava os idosos, até participar dos resgates,
Eu não sabia cozinhar até ter na minha frente uma panela com arroz e crianças com fome.
Eu achava que a minha casa era mais importante até que as outras até ver todas cobertas pelas águas,
Eu tinha orgulho do meu nome e sobrenome, até a gente se tornar todos seres anônimos,
Eu não ouvia rádio até ser ela que manteve a minha energia,
Eu criticava a bagunça dos estudantes até que eles, às centenas, me estenderam suas mãos solidárias.
Eu tinha segurança absoluta de como seriam meus próximos anos agora nem tanto.
Eu vivia numa comunidade com uma classe política, mas agora espero que a correnteza tenha levado embora,
Eu não lembrava o nome de todos os estados, agora guardo cada um no coração,
Eu não tinha boa memória, talvez por isso, eu não lembre de todo mundo,
Mas terei mesmo assim o que me resta de vida para agradecer a todos,
Eu não te conhecia, agora você é meu irmão,
Tínhamos um rio, agora somos parte dele.
É de manhã, já saiu o sol e não faz tanto frio Graças a Deus, vamos começar de novo.
É hora de recomeçar, e talvez seja hora de recomeçar, não só materialmente.
Talvez seja uma boa oportunidade de renascer, de se reinventar e de crescer como ser humano.
Pelo menos é a minha hora, acredito.
Que Deus abençoe a todos.
Luis Fernando Gigena
Talvez seja uma boa oportunidade de renascer, de se reinventar e de crescer como ser humano.
Pelo menos é a minha hora, acredito.
Que Deus abençoe a todos.
Luis Fernando Gigena
(Depoimento de um funcionário da Perdigão da cidade de Itajaí - SC, uma das mais afetadas pelas enchentes e desmoronamentos em 2008 ).
A hora do despertar interno, do
despertar espiritual chega para todos nós. Alguns, são chamados e despertos pela
dor, outros, pelo amor, mas amigo leitor, esse momento chega para todos nós,
nessa ou na próxima encarnação. A beleza desse depoimento está na compreensão do Luis
Fernando perceber que havia chegado o momento de mudança, de recomeço para
ele, sem revolta. Obviamente, muitos foram transformados pela dor, privação e provação que
passaram coletivamente, perceberam a
solidariedade do outro e foram solidários, mesmo vivendo igual dor, sem distinguirem raça, nacionalidade, sexo ou idade. Valores que para Luis eram importantes ou pequenas coisas que o incomodavam, na verdade,
passaram a ser insignificantes, diante do chamado, diante da impotência, do ser humano,
perante a força da natureza, ou de algo maior, alheio a terrena vontade.
Aprendi com esse texto. E nunca ė tarde para aprender,
para recomeçar, pois somos crianças e eternos aprendizes da vida.
Beijos na alma,
Simone Anjos
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Linda mensagem!
ResponderExcluirOs ensinamentos que ela nos traz, é de grande valia para toda humanidade!
Abraço
Rita