A
Ética se abstém de criar normas ou de impor determinado tipo de comportamento
humano e o Espiritismo, com suas regras morais, pretende induzir o ser humano a
refletir sobre suas relações uns com os outros; ensinar e influenciar os modos
de conduta ou de convivência moral entre estes seres, com o objetivo de
permitir e facilitar o alcance da sua reforma íntima, objetivando a sua
perfeição, meta principal a ser alcançada. Mas, como vimos, é a ética que
estuda e avalia a receptividade das regras morais e a qualidade do agir humano
de acordo com o que nos é proposto no Evangelho de Cristo (ou de outras
correntes religiosas), ou seja, se nos conduzimos ou não conforme os
ensinamentos ali contidos.
Sabemos
que a Ética foi concebida por espíritos estudiosos encarnados, principalmente
os filósofos da Grécia Antiga como: Sócrates
(conhecido como “o pai da
moral”), Platão, Aristóteles, entre
outros espíritos nobres da época e de outras posteriores. Já no sec.XIX, estes mesmos
espíritos na condição de desencarnados, foram também colaboradores na
formulação e concepção da Doutrina Espírita, codificada por Kardec, ao lado de outros, como por
exemplos: Paulo de Tarso, Emmanuel,
Santo Agostinho, Fénelon, São Luís, São Bento, Joana de Ângelis (um espírito
amigo), Erasto, João Evangelista, Rousseau, Kant, Lázaro, Joana D’Arc, etc.,
sob a inspiração, coordenação e presidência do Espírito da Verdade.
A Doutrina Espírita foi
concebida e formulada com base nos ensinamentos do Mestre Jesus constituindo-se no que se denomina moral espírita,
sendo que a sua grande importância é a de proporcionar a reforma íntima dos
seres humanos, para que, a partir dos seus preceitos doutrinários, aprendamos a
conhecer, fazer, conviver e ser, descobrir a nós mesmos e indicar-nos os
caminhos do reajuste, evoluindo, reformando-nos, buscando a perfeição e, por
fim, a felicidade.
É
de observar-se que, se o espírito não está no vaso carnal só possui a natureza espiritual. A criatura humana concreta possui uma natureza material ou animal
e espiritual compondo a natureza humana, e esta última – a natureza espiritual
- é representada pelos princípios
intelectual e moral de que se revestem os espíritos, trazendo à matéria
quando encarnam, dos quais derivam as faculdades inteligência e vontade, chamadas potências da alma: uma buscando a verdade, outra
buscando o bem, induzindo-nos a deduzir que possuímos uma “inteligência prática”,
própria para a ação.
Os
seres humanos utilizam a inteligência prática para agir no mundo, ou seja, a
inteligência interage com a vontade para, nos diversos setores de atividades,
produzirem bens materiais e imateriais. Mas não é só, vez que a inteligência
prática também atua no campo específico da moral e, é a partir dela que estes seres
sabem se o que fazem, fez e querem fazer é bom ou mau. Portanto, nesta acepção,
todos os seres humanos (encarnados e desencarnados) são destinatários dos
estudos, da avaliação e dos julgamentos éticos, vez que são seres morais.
Os
filósofos eticistas sugerem que temos um órgão ou sensor ético originário dessa inteligência
prática, constituído da sindérese, prudência e da consciência,
afirmando ser este sensor imaterial (veja
Alonso, obra citada) e, portanto, não está no corpo físico, concluímos. Logo,
está no espírito, de modo que entendemos serem todos os espíritos possuidores
de um órgão ou sensor ético e, estejamos encarnados ou não, somos submetidos
à avaliação e julgamento subjetivo da nossa conduta moral no sentido amplo, ou
seja, pode ser um desejo, uma intenção, um pensamento, uma ação.
A
sindérese
é a faculdade primígena do órgão ético racional existente em todos os
espíritos, expressão muito usada pela filosofia cristã a partir do sec. XI, e muitos
autores informam ter ela sido cunhada primeiramente por São Jerônimo (347 - 420) seguido por São Tomás de Aquino (1225 - 1274). Este autor acentua que “a
sindérese é a luz natural, dada por Deus aos homens, que lhes permite conhecer
e apreender os princípios fundamentais da ação” (veja Nalini, obra citada).
É o hábito dos
primeiros princípios da ordem moral que se apresenta como normativo em ordem à
especificação dos atos em todo o campo da moralidade, coroados pelo princípio
supremo, “bonun faciendum, malunque vitando”, ou seja, o bem deve ser
feito, o mal deve ser evitado (veja
Henrique C. de Lima Vaz em Escritos de
Filosofia IV – Introdução à Ética Filosófica I, pag. 17). A existência do
bem e do mal é captada por ela, mas também é dela o direcionamento inato da
conduta dos seres humanos para o bem e, portanto, intervindo no ato moral.
O
ato ou conduta humana mesmo antes de ser realizado é gestado, por assim dizer, pela
inteligência prática através da sindérese (“hábito natural dos primeiros
princípios do agir”) que apreende a existência do bem e do mal e os distingue e
escolhe para atuar segundo o grau de adiantamento ou aperfeiçoamento do
espírito. Esta função primeira da inteligência prática é realizada no corpo
sutil, psicossomático ou perispírito, onde está sediado o comando do cérebro
físico, a mente, que independe deste para pensar, comunicar e mesmo agir ou
atuar.
Todo
atuar dos seres humanos é direcionado para o bem ou para o mal. Porém, atuamos
sempre levando em conta pessoas, coisas, fatos e circunstâncias, ou seja,
agimos com prudência ou sabedoria (do grego,
frônesis ou sofía), virtudes próprias da alma racional orientada para os bens divinos. E não estamos falando de prudência no
sentido léxico - agir com cautela ou precaução – mas, agir de maneira correta,
sensata e, portanto, realística.
A consciência
(na língua latina cum = com e scientia = ciência, ou
seja, consciência, agir ou pensar com conhecimento) aqui entendida é a consciência
moral, operação instantânea ou “função reflexiva da inteligência
prática, pela qual a pessoa (diríamos o
ser humano) autojulga aquilo que vai fazer, faz ou fez, segundo sua bondade
ou malícia” ou, “é um juízo da inteligência prática humana que se pronuncia
acerca do bem ou do mal do nosso próprio agir” (veja Alonso, obra citada).
É claro, então,
que não estamos nos reportando à consciência psicológica que nos
permite conhecer o mundo, os fatos, as coisas e objetos, pessoas, produzir bens
materiais e imateriais etc., dar-nos conta de quem somos e do que fazemos.
A consciência
moral constitui-se como norma última obrigatória, subjetiva, interior ao
sujeito da moralidade ou da qualidade da vida ética. É, pois, uma operação
prático-intelectual da inteligência prática que julga a nossa própria conduta,
ou seja, se agimos bem ou mal. É uma faculdade de julgar e avaliar o
comportamento que tem conseqüências não só para nós mesmos, como para os demais
(veja Vázquez, obra citada). “É juiz, acusador, defensor de
cada espírito, que age conforme os arquivos com que se estrutura, aprisionando
em remorsos lastimáveis ou libertando com alegrias inefáveis cada Espírito” (Joanna de Ângelis, em Diretrizes Para o
Êxito, pag. 112).
Contrapondo-se
às idéias de Immanuel Kant, Vásquez acentua que a consciência
moral é um produto histórico; algo que o homem cria e desenvolve no decurso de
sua atividade pratica e social. E ainda acrescenta: “A consciência moral
efetiva é sempre a consciência de um homem
concreto individual, mas, por isso mesmo, de um homem que é essencialmente
social” (obra citada), sem
considerar que o homem é um espírito encarnado em evolução e que teve e terá
muitas outras existências. Na verdade, a consciência moral e outras faculdades
do espírito, são inatas, latentes, as quais são desenvolvidas durante as muitas
existências no contexto histórico-social do espaço e do tempo e nas diversas
sociedades e ambientes em que viveu fisicamente e permaneceu provisoriamente.
Passemos, pois,
a palavra a Emmanuel: “Os valores intelectivos
representam a soma de muitas experiências em várias vidas do espírito, no plano
material. Uma inteligência profunda significa um imenso acervo de lutas
planetárias... É no próprio patrimônio íntimo que a alma registra as suas
experiências, no aprendizado das lutas da vida, acerca das quais guardará
sempre uma lembrança inata nos trabalhos purificadores do porvir” (veja o livro O Consolador, psicografado
por Francisco Xavier, respostas ás perguntas nº 117 e 118).
*Alfer Sant é pseudônimo usado pelo autor do texto que é mestre em economia, advogado, professor universitário e doutrinador espírita há mais de 40 anos.
LEIA AQUI: O ESPIRITISMO E A ÉTICA - PARTE I
O ESPIRITISMO E A ÉTICA - FINAL
Imagem pesquisada na web, havendo direitos autorais, favor nos avisar para darmos os devidos créditos ou a retirarmos do blog.
Comentários
Postar um comentário
O seu comentário é muito importante para mim. Obrigada!